Mensagem para meu amigo Guiboy!

Irmão, saudade de te ver esticando seu tapete aqui no shala. Importante amadurecer a concepção de que o sadhana (disciplina) é mais importante que a quantidade ou qualidade da pratica em si, pois o processo terapêutico é resultado de um trabalho contínuo, lento e constante. Sobre quantidade e qualidade, deixe que o tempo te mostre de maneira orgânica.

As lesões e possíveis desconfortos são oportunidades de reflexão e calmaria, pois nos tira da zona de excitação e nos coloca num contexto de presença e sensibilidade com sigo mesmo. Não deixamos de praticar devido as limitações de lesões! Claro que com cuidado e amor, possivelmente a pratica se reduz ao que é possível fisicamente fazer, mas o coração se mantem firme na atitude de acender a vela na manhã, esticar o tapete e ouvir a respiração. Observe que mesmo com corpo dolorido e machucado, podemos ter a sensibilidade de ouvir e respirar, de acolher o som da garganta como uma resposta de que você está vivo e com vontade; mesmo que seu ego te leve para os cômodos escuros do seu ser, e te deixe se questionar sobre si mesmo e sobre a validade da pratica.

Acredite, tenha fé e devoção: estique o tapete, cante o mantra com a mentalidade de que você está sendo amparado por um legado milenar. E faça! Desapegue do que te espera, mesmo que seja apenas um vinyasa (um único movimento acompanhado da respiração).

Execute cinco saudações ao sol, e depois deite, relaxe, una as mãos em frente ao rosto, de olhos fechados e agradeça pela oportunidade. Costumo expressar para os alunos que uma pratica madura não é o grau das series, mas sim a relação de intimidade com a atitude de praticar. Quando se estica o tapete diariamente, não apenas pela procura do avanço dos asanas, mas principalmente pela necessidade de estar consigo mesmo, de saber que ali é permitido sorrir e chorar, por que  é o momento de rebelar seu excesso!

A dor sempre vem acompanhada de tensão e medo, devido ao trauma. Mas a respiração e bandhas (contrações musculares) vem para gerar espaço e conforto mental, a respiração vem acompanhada de prana, a consciência divina, o poder de cura, o milagre através de Purusha (Deus). A meditação na pratica de asanas quase sempre é resultado de um acumulo de experiencias polarizadas. Praticantes experientes são alunos antigos, que transitaram nos dias  favoráveis de um uma sala quente na beira da praia, um corpo aberto e esbelto, movido pela energia de um bom professor e um grupo dedicado. Mas os mesmos, também praticaram em dias frios e solitários, sentindo a dor nos ossos, na companhia apenas do frio da sala e o quadro do professor no porta retrato barato.

Minha ideia no Goura-Shala não é criar um exercito dogmático de praticantes fanáticos em fazer asanas, mas sim, dar um novo olhar para as dificuldades, principalmente desenvolvendo o entendimento que a disciplina, independente de quantidade de asanas é o óleo que mantem a chama de tapas acesa. Acredite, é essa pequena chama que se mantida acesa devido a disciplina por um longo tempo, pode derreter um Iceberg de questões internas que obscurecem nosso coração, e nos cega com as demandas emocionais.

Uma coisa é certa  –  sem disciplina, não conseguimos manter a observação constante nas alterações  emocionais, e sem observação constante, dificilmente vamos conseguir realizar o que vem a ser entrega ao Divino.

Manter a constância, observação a si mesmo e entrega ao divino é a bola da vez meu amigo! Te vejo aqui na segunda feira para fazer cinco saudações ao sol. Abraço e paz.

Junior (Jay Gauranga)