Já faz um tempo que venho notado o quanto essa pratica nos coloca constantemente em condições polarizadas, são elas inúmeras. Venho através desse texto expor duas condições mais presentes. A primeira é coragem de enfrentar nossas limitações, não apenas física, mas principalmente emocionais; e a segunda, o medo de que não iremos conseguir executar a postura ou se machucar na tentativa da própria.
Um entendimento primário que ensino aos meus alunos na pratica de ashtanga yoga é, nosso corpo físico é a representação grosseira de nossas emoções e expectativas, nossas células pulsam de acordo com nossas energias mais primarias e sutis, nosso estado interior se expressa ao mundo externo através do nosso corpo e dos movimentos, e nossas experiencias externas solidifica nossas emoções e sentimentos em forma de bloqueios, marcas e padrões.No yoga o asana é ferramenta de acesso ao espirito tendo como energia transmutadora a respiração Ujayi. É ai que mora a beleza desse processo tão transformador, uma pratica “mecânica” capaz de tocar a alma espiritual, que esta encoberta pela poeira das experiencias materiais.
Esticar o tapete é se expor ao âmago de suas forças e principalmente fraquezas. A cada dia me vejo mais controlador de minhas forças e mais dominador de meus medos. E isso é incrível! São poderes advindos do mérito de muito desconforto e suor em cima do meu tapete.
S.k. Pattabhi Jois falava sobre os seis venenos que possuímos em nossos corações (desejo, raiva, desilusão,ganancia, inveja e preguiça) que são como poeira acumulada no espelho nos impedindo de ver nosso verdadeiro reflexo de luz. E Patanjali falou de nossas flutuações mentais (vrittis) que nos mantem em ignorância (avidya) sendo principal causador de nosso sofrimento.
Junte isso e mergulhe em suas questões?
Sem julgamentos, apenas com amor e aceitação.
Talvez seja um trabalho difícil e muito delicado. Nossa mente é perversa e nosso coração é um oceano de diferentes carências, que muitas vezes não possuímos força sozinhos de transmutar em luz e sabedoria. Mas com determinação e tempo de maturidade tudo se renova.
Observo na minha pratica pessoal que esticar o tapete e respirar é uma forma respeitosa e assertiva de adentrar nesse universo. Pedimos às benção dos mestres para nos ajudar através do mantra de inicio, com paciência e determinação, após alguns anos, as respostas gradualmente se revelam e a felicidade demonstra menos timidez a nossa frente.
Talvez nossa alimentação mude, nosso meio social, nossas fotografias nas redes sociais, começamos a andar de bicicleta e ouvir mantras… mas o yoga ainda não está ai! Não é um hobby! É um processo profundo de libertação:
São lagrimas e sorrisos…
É desconforto e comodidade…
É desequilíbrio e equanimidade…
É “sthira” e “sukha”…
É o desconforto de esticar o tapete as quatro da manhã na sala fria e vazia, no silencio da madrugada, no calor de uma unica vela acesa no canto da sala, oferecida com devoção a imagem do mestre, no qual sua unica companhia é o som profundo da sua respiração. Mas a felicidade unica de ver o sol nascer gradualmente na janela embaçada, após o descanso de sua pratica, a espera de um dia iluminado que te revela a vida com o olhar de um yogui buscador de seu próprio caminho.
Parece confuso, mas essa é a realidade para um simples yogui. Tem que haver medo no inicio para ansiar pela coragem. É preciso se deparar com toda nossa loucura e transtorno interior, para desejar tão intensamente pela a luz, para vibrar tão intensamente o anseio por Deus.
E gradualmente não há mas coragem, pois somos a mesma. E não há mais medo por que iluminamos a sombra…
Estamos juntos nessa caminhada. Hari Om
Junior (Jay Gauranga)