Ashtanga Yoga, vertical ou horizontal?

Sabe se que Patanjali não criou o yoga, mas abordou de maneira eficaz e profunda um processo milenar no qual tem como objetivo dois pontos: “Samadhi” alcançar o transe  e “klesha-tanú” diminuir o sofrimento 2.2. Notemos que são dois conceitos distintos (transe espiritual / diminuir sofrimento)  mas interligados como resultado de um esforço continuo 1.13,14. Este processo  é elaborado em diferentes angas ou partes, essa foi a grande “sacada” do sábio Patanjali. O ponto em questão é? Se estas partes são galgadas na vertical de maneira que o praticante vai subindo em direção ao samadhi ou são acopladas num estilo de vida na qual esses angas vão amadurecendo juntos de maneira em que determinado momento o sofrimento se dissipa e  o samadhi se manifesta.

A ideia não é  gerar discussão ou apontar certo ou errado, mas sim, induzir os praticantes a se questionarem  sua concepção acerca da pratica, o por que de empreender esforço diário no tapete, não apenas para um corpo belo e alongado, mas principalmente para um efeito mais profundo a nível de realizações acerca do Transe e alivio de sofrimento.

O verso que antecede a colocação de “ashtanga yoga” nos sutras Patanjali usa o termo “Anushthanat” que significa  “pela pratica” 2.28, ou seja, a pratica dos “yoga-angas” não necessariamente são galgadas de maneira vertical como muitos colocam, mas sim praticadas juntas de maneira em que o samadhi é atingido em algum momento.

A meu ver, dentro da minha pequena experiência, noto através da  própria pratica diária e estudo dos textos que o asana feito de maneira correta e sistemática, cria uma espécie de redemoinho no coração do praticante, fazendo com que os outros angas são sugados vagarosamente para seu interior até acessar camadas mais profundas no seu ser. Notemos o exemplo de alunos novos que melhoram sua alimentação devido a necessidade de querer avançar na pratica de asanas, sendo assim concluímos que mesmo sem dogmatizar os yamas e niamas, eles se manifestam de maneira muito espontânea. Mesmo sendo por um objetivo físico, mas o processo já está ali. Em determinado momento a sensibilidade do corpo e conexão com a respiração vai induzir  a levar a atenção para dentro e entrar em meditação; Talvez daqui alguns meses ou anos, mas o yoga com todos os angas está ali, pronto, porém  em estado latente. É importante esclarecer que Kayvalia, a perfeita união com o divino, é algo que já existe, já possuímos, pois este estado é “ nosso por natureza” esta intrínseco em cada ser vivo, mas a nossa consciência pura, está sendo contaminada por alguns fatores desfavoráveis que são mencionados nos próprios sutras: as flutuações mentais 1.2, os obstáculos mentais (te’antarrayah) 1.30, os modos da natureza (guna-vrtti-virodhac) 2.15, e até mesmo os siddhis, poderes conquistados se não canalizados de maneira correta podem se tornar impedimento (punar anishta-prasangat) 3.51.

Assumir esticar o tapete todos os dias de manhã, não é estar atrás de saúde e bem estar apenas, pois isso é um brinde do resultado natural, mas o fator principal é que o “Hatha-yogui” utiliza do seu corpo como objeto de observação do seu estado de espírito. Ele se propõe a cultivar todos os angas de Patanjali usando o asana como uma ferramenta, a pratica e o desapego é a margem de seu equilíbrio, o tapas é o cultivo do seu próprio calor para destruir suas impurezas, sua observação e estudo dos textos sagrados é seu manual didático para manter em seu coração sempre sua devoção e entrega ao senhor, Ishvara Pranidhana 2.1.

É um caminho lindo e encantador, mas construído com calma e suor. Por isso é considerado o Raja-yoga. Krishna já tinha falado nesse termo a milênios atrás para seu amigo e discípulo Arjuna:

Raja Viya raja-guhyam pavitram idam uttaman

Pratyakshavagamam dharmyam su-sukham kartun avyayam

Este conhecimento é o rei da educação, o mais secreto de todos os segredos. É o conhecimento mais puro, e por conceder uma percepção direta do eu, é a perfeição da religião. Ele é eterno e agradável de ser praticado. BG 9.2

Patanjali mostra o caminho da devoção a Deus como um processo que não precisa ser encarado como algo ascendente, mas principalmente absortivo. Se posicionar em yama e nyama é interagir com a universo de maneira correta, praticar asanas significa controlar o conforto e firmeza que a vida nos exige, controlar os sentidos e levar a atenção para dentro implica em refletir e discernir a respeito dos nossos verdadeiros valores e, por fim meditar é a atitude de buscar um transe dentro da  nossa verdade interior.

Faça sua parte continue praticando, mas deixe que o Controlador Supremo  “Ishvara” determine o resultado.

Um abraço e paz.

Junior (Jay gauranga)