Faces da moeda.

Pratica de yoga implica numa mudança de concepção de mundo. De funcionalidade das coisas, da disposição de querer mudar seu comportamento em prol de algo maior, que é sua felicidade. Nossa mente esta sempre nos impondo uma certa forma de adquirir felicidade, e nós, submissos as suas demandas, gastamos tanta energia física e emocional para adquirir uma certa euforia de aquisição de sensações, e o pior, consideramos isso como felicidade. E sempre no final existe uma certa frustração, ou sensação de estar incompleto, a prova disso é que os padrões já vêm se repetindo há muito tempo, e ainda assim estamos investindo nossas fichas acreditando que dessa vez vai haver plenitude, no trabalho, projetos pessoais e até mesmo processos de autoconhecimento, e claro no amor. E como sempre somos surpreendidos pela mesmice de sempre de que “não foi dessa vez”.

Como se jogássemos uma moeda pra cima esperando sempre dar cara, sem considerar que a coroa existisse, esquecendo que existe 50% de chance de ambas se manifestarem devido a quantidade de sombra que habita em nós como resultado da quantidade de luz que está sempre presente também.

Que felicidade é essa que estamos procurando? Por que sempre queremos uma unica face da moeda?

O yoga coloca que a verdadeira felicidade vem de dentro e se chama Ananda (bem-aventurança); mas como explicar sobre o sol para alguém que nunca se quer sentiu o calor, como falar de amor se alguém nunca se quer amou. E claro, como falar de samadhi ou liberação, para alguém que se quer consegue manter a mente quieta sem ser constantemente arrebatada pelos desejos impostos pelo sistema que vivemos. Para haver interesse em algo, é preciso ter um parâmetro de onde chegar. A verdadeira felicidade acontece por não haver interesse em faces da moeda, mas para isso é preciso experienciar ambas e realizar que são ilusórias.

Então, partindo desse princípio de que “Ananda” é uma camada muito profunda no ser, acessar a paz mental e liberdade de anseios emocionais já pode ser considerado uma forma de felicidade espiritual aqui nesse mundo, pois a libertação das amarras emocionais nos deixa presente para observar com mais sutileza e introspecção o seu verdadeiro motivo que te move para o Divino (Dharma). Na minha experiencia pratica, posso afirmar que nos dias mais rígidos do meu corpo, ou na japa cantada com menos introspecção, também foram peças de tamanha importância no meu amadurecimento espiritual. Me recordo de relações turvas na época de monastério, que após anos de dificuldades e atritos com certos companheiros de caminhada, pude perceber que foram tijolos de alicerce na formação do meu ser.

Venho realizado a cada dia, ou cada tentativa de avanço como um ser espiritual, que ambas as faces da moeda (luz e sombra dentro de mim) são importantes para minha maturidade. E isso me conforta, por que me remete a uma consciência de que tudo é bom, literalmente tudo. Que o dia perfeito, são todos, mesmo os dias na sombra e escuridão do meu ser. E isso me deixa feliz e com uma sensação de estabilidade, por que ambas as polaridades que residem no meu coração necessitam ser experienciadas pra que eu possa conhecer a mim mesmo. E saber disso implica numa certa felicidade e conforto de ser eu mesmo, sem julgamentos; me deixa mais leve e sem expectativas. Num primeiro momento não é a felicidade tão profunda como “Ananda” ou a estabilidade espiritual chamada “Samadhi”  mas uma certeza de que estou caminhando para frente, em direção ao que é certo. E nesse ponto meu termômetro de avanço está diretamente ligado ao meu nível de disciplina no processo do yoga, pois a disciplina é o fervor da busca espiritual (por isso o conceito de Tapah, calor) e a atenção nas inter-relações (yamas e nyamas) são o valores estabelecidos como VERDADE para o yogui.

Com chuva ou sol, na cara ou coroa, nos mantemos fixos na vontade alcançar algo que um dia nos trará a consciência que estamos todos juntos nessa caminhada.

Abraço e paz

Junior (Jay Gauranga)

“Ashtanga” não se resume apenas em Ashtanga.

Quando estudamos formalmente a filosofia do yoga, nos deparamos com uma concepção de que existem diferentes tipos, linhas ou escolas de yoga. Assim como as seis escolas tradicionais ortodoxas onde dentre elas esta o “Yoga” advinda de Sri Pattanjali. E consequentemente consideramos cada pratica ou seguimento estando separado por essas classificações. Por exemplo, no Bhagavad Gita Krishna aborda diferentes “yogas” como karma, buddhi, raja, bhakti e jnana. Mas com um pouco de entendimento o estudante sincero entende que não são vários seguimentos ou tipos de yoga, mas sim, diferentes aspectos de uma unica concepção que é a conectividade da alma infinitesimal (eu) com a alma suprema ( Deus) através de um processo de auto-descoberta interior do individuo no qual transita desde valores, meditações, estudos, postura do ser  perante o seu meio que o cerca e por ai vai… E vai Longe!

O que ressalto aqui, é que numa unica busca, existem aspectos diferentes, mas ainda continua sendo um único caminho. Mesmo que aparentemente se bifurque em conceitos.

Sim, são abordagens diferentes, por isso, a necessidade de “varias” yogas de acordo com o nível de envolvimento, entendimento e realização de cada espiritualista.

O que eu, Junior, venho notado dentro da minha pequena experiencia nessa pratica de “asanas” é que, uma vez que levada a serio dentro da disciplina, método e um professor experiente e honesto. O “ashtangui” adquiri qualidades que muitas vezes são oriundas de linhas distintas do ashtanga. Por exemplo:

Ashtanga não é a priori Karma Yoga! Mas a maturidade da pratica nos coloca em Yama e Nyama de forma que nossas ações estão sempre voltadas a serviço de algo maior do que nosso ego ou nos mesmos.

Ashtanga não é a priori Bhakti Yoga! Mas a maturidade da pratica nos coloca numa relação de devoção no método, que limpa os venenos do nosso coração nos tornando mais amáveis e conectados através do amor.

Ashtanga não é a priori Jnana Yoga! Mas a maturidade da pratica nos faz realizar a teoria devido a experiencia pratica da disciplina de diarimente lidar com a busca de si mesmo junto com a nossa luz e sombra contida no nosso ser, sendo impossível realizar através de palavras e livros.

Ashtanga não é a priori Buddhi Yoga! Mas a maturidade da pratica elimina as camadas mais grosseiras do praticante permitindo que sua mente se mantenha forte e fixa no discernimento entre o que gera sofrimento ou libertação para si mesmo.

Ashtanga Yoga não é a priori Hatha Yoga! Pois suas raizes não estão diretamente ligadas aos Nathas Yoguis da idade média da India, mas esta diretamente ligada a Vamana Rsh, nada mais que um grande representante das linhagens de yoguis fidedignos na historia cronológica do Yoga.

E por fim, ashtanga yoga é Raja Yoga, pois o próprio Patanjali afirma nos seus ensinamentos que mais tarde comentado por Vyasa que os membros mais profundos do Ashtanga são o Raja Yoga, pois é a yoga praticada com maior profundidade.

A ideia desse texto esta longe de comparar ou superiorizar o método de outros tão eficazes quanto, mas sim, levar para os leitores uma fragrância de profundidade de uma pratica tão poderosa, profunda e fidedigna.

Continuo unindo as mãos no centro do peito, no inicio e fim de minha pratica, pois sei que o ritual dos asanas é a porta de entrada para as  ‘Yogas” mais profundas dentro de mim.

Quem vai comigo?

Junior (Jay Gauranga)

Concepção

O yoga como processo, faz com que o praticante transite em momentos de profundidade e concepção da pratica como um todo. A afirmação de Patanjali de que “o yoga é o controle das flutuações da mente” se traduz na pratica de asanas como:

” o asana é a ferramenta de limpeza do excesso”

Vivemos numa realidade onde os estímulos sensoriais junto com estilo de vida faz com que o acumulo de excesso fisiológico e emocional nos conduz a se tornarmos recipientes cheios de “vritts” flutuações mentais. Um ponto básico no Bhagavad-Gita é o entendimento de que a interação entre os sentidos, com os objetos dos sentidos faz com que nossa mente e suas flutuações coloque nosso ego numa condição de apego, limitando a compreensão de uma relação mais profunda com o que esta ao nosso redor. Quando Sri Patanjali coloca que o pensamento do yogui não é preto e nem branco, significa que “vritts” o acumulo de pensamentos mesmo que seja dentro de um estilo de vida saudável e atraente, também pode se tornar um excesso fazendo com que o aluno/praticante/yogui se limite a um olhar menos profundo de alguns pontos como:

*Por que praticar yoga

*Onde quer chegar com o yoga

*Em que etapa você esta agora com seu processo de yoga

O resultado do yoga como melhora e qualidade de vida, uma vez que levado a serio e tendo um bom professor, é inegável e real. Mas ainda é primário quando entendemos  que o yoga propõe mudanças numa esfera de maior profundidade.  Costumo dizer para meus alunos, que a procura por melhoras na condição de saúde e bem estar, é um brinde ou consequência de um processo que tem como prioridade a quietude da mente, para elevação da consciência e realização de Deus (Ishvara). Quando olhamos para o yoga como um meio de quietação e paz interior, faz com que nos de norte para sabermos como nossas atitudes e mentalidade esta no momento presente.

Os asanas são a ferramenta, mas o verdadeiro resultado é a quietação! Pois é no silencio da mente que mora a libertação dos Kleshas (sofrimentos fisico e principalmente emocionais). Entendendo esses pontos básicos, mas importantes na filosofia do yoga nos ajuda e se prontificarmos de maneira correta nesse estilo de vida tão lindo do yoga, que não se resume apenas em andar de bicicleta, comer orgânicos e fazer self em redes. Isso é legal e faz parte, claro. Mas é parte de um todo maior e profundo. Não é preciso avanço e pureza no yoga, a priori; mas é preciso saber onde quer chegar, para que possamos trilhar com a certeza de que estamos no caminho certo. A desistência é normal entre muitos, por que muitas vezes o caminho foi trilhado com a expectativa de chegar em samadhi (iluminação) sem o entendimento de que a quietação é total, e não apenas externa. O estilo de vida é ótimo, mais ainda está numa camada externa.

Estamos vivendo num momento tecnológico em que podemos expor e se conectar com pessoas e informações que talvez nunca teríamos a oportunidade de ter acesso.  Isso é lindo, mas é preciso ter o cuidado de mantermos a jóia da quietude interna em equilíbrio uma vez que é nesse lugar que mora o verdadeiro yoga.

Exercito isso em minha pratica de ashtanga yoga, por exemplo, muitas vezes me deparo com um excesso de esforço para conseguir executar o asana de tal maneira que meu corpo está tenso e criando rigidez, assim minha consciência afirma para minha mente: acalme, apenas respire, ouça e deixe fluir. E é nessa quietude que acho o sukha (espaço e conforto) para execução do asana, que até então estava rígido e difícil. Enfim.

Vou esticar meu tapete. Abraço e paz.

Junior (Jay gauranga)

Antibiótico de baunilha.

Esse texto é uma experiencia limitada e pessoal minha como professor, é uma concepção que sempre discuto com os alunos aqui no Goura Shala.

Eu comparo a pratica de ashtanga yoga como um antibiótico, pois é uma pratica muito eficaz e  intensa. Sendo assim, como qualquer processo de cura, é preciso tomar na dosagem certa juntamente com a distancia certa de horário. Assim como é o método tradicional deixado  pelo Pattabhi Jois, existe o dia de descanso, as luas e por ai vai…

Seguindo a analogia do antibiótico, quando você vai numa farmácia comprar o mesmo, você encontra a opção de tomar sabor baunilha. Isso mesmo! É inserido um sabor para que fique mais atraente a ingestão.

Sim, esse é o ponto em questão! A pratica diária dentro do método é como um antibiótico eficaz, e uma vez que os asanas vão avançando na serie, junto com o ambiente  quente com pessoas bonitas e alongadas, os amigos do sanga (egregora) e todos  esses aparatos externos que vem junto com a pratica surge o sabor baunilha! Que é muito bom por sinal, isso é inegável. Um novo estilo de vida com novas amizades, uma sacola cheia de folha verde no bau da bicicleta ouvindo um som de mantras no fone de ouvido.

Nada como ver uma criança obediente tomando um remédio de manira regular, mas o fato do remédio ser “saboroso” não exclui o entendimento de que o proposito é a cura!

Ok, vamos ser breve:

Tapas a disciplina é a prioridade, assim como o tratamento com antibiótico sabor Baunilha.

Mas a transformação interna e alivio de sofrimentos em todos os âmbitos são a essência.

Focar a perfeição dos asanas sem respeitar seu corpo e colocar apenas energia em ganhar mais e mais, demostra nada mais que uma criança achando que pelo fato de o antibiótico ser doce não existe a necessidade de cura.

Tapas (focar a disciplina) svadyaya que é a atenção em si e a fundamentação teórica do tratamento que está sendo feito é crucial. Mas Ishvara Pranidhana é o entendimento que a entrega e confiança na cura é o mais importante. É ali que mora a verdadeira e mais profunda transformação proposta pela pratica, essa oportunidade de um novo olhar apos um trabalho honesto e intenso.

É ver o quanto o valores éticos e morais deixam de ser regras seguidas, e passam a ser parte de mim mesmo como expressão do meu ser.

Observo muitos alunos que estão a meses trabalhando um único asana, “estagnados na serie” mas em contra partida a disciplina no trabalho esta dando uma oportunidade de se aprofundarem em suas amarras que dificilmente iam ter em outras situações na vida.

Isso é a busca pela cura!

Também estou tentando junto com os alunos refinar mais minhas intenções no yoga, realizar que o sabor baunilha vem pra ajudar no processo, mas a verdadeira proposta é a cura!

Qual cura? O que é a cura?

Também não sei, como crianças no yoga continuemos se medicando diariamente, e gradualmente a calmaria da nossa mente, nos permite entender o que vem a ser a cura!

Pratique e tudo virá…

Abraços e boa pratica.

Junior (jay Gauranga)

A busca.

Em algum lugar, sem espaço e escuro

Na companhia de minhas questões

Quem sou, de onde vim, e principalmente, pra onde vou?

Existe vida após esse lugar? existe luz?

Acolhido por uma voz externa na qual vinha imbuída de sentimento e carinho, acolhimento

Uma voz que me passava segurança e conforto

Meses se passaram, e faleci em algum momento

Foi intenso e abrupto, sentia algo me expulsando sem respeitar meu desejo de ficar, do medo  que me aguardava após; medo de ser o fim, medo do novo talvez

Mas a luz se manifestou, e um mundo novo se pôs perante meus olhos entre abertos

Descobri o espaço e o movimento, descobri minha autonomia para expressar o que sentia, e a autonomia de gesticular como eu mesmo queria.

No inicio a dificuldade de adaptação, até a respiração era um exercício

O tempo qualifica e caleja o individuo

Com sorrisos e lagrimas acreditamos  ser o que o espelho reflete como falsa verdade

Mas…

O ciclo se renova, e tudo novamente esta em mim..

Sem espaço, sem ar e a escuridão do meu próprio ser ao meu lado

E a grande diferença é, não tenho a voz acolhedora nesse momento

Por que os gritos incansáveis da minha mente, junto com os desejos intensos do meu coração bloqueiam o contato com algo mais profundo em mim.

Será novamente um sinal de mais uma morte?

Ou apenas sintomas de ser mais um doente ou vitima de um sistema assassino de alma que vivemos na atualidade

Tempos se passaram, e novamente outro “falecimento de mim mesmo”

Uma sala quente, o som de diferentes respirações como uma sinfonia agradável

O movimento unido com minha respiração gera calor, que me purifica e gera espaço

Como se a luz partisse de dentro de mim mesmo

Sinto meu coração pulsar e a presença de meus reais sentimentos, mesmo que seja ruis, mesmo que seja pensamentos não desejados, mas são verdadeiros e meus.

Pois aceitando o que é meu, fica mais fácil de identificar e segregar

Sinto no mantra OM a voz de acolhimento, e a confiança de que nasci novamente

É o mesmo mundo de sempre

Mas com um novo olhar, uma nova forma de se relacionar, um novo sentido ao que chamamos de ciclo

É a maturidade da alma!

É a nova vida baseada em disciplina que gera liberdade

A observação e estudo que nos molda como seres conscientes e presentes

E principalmente a entrega ao Divino, que conforta nosso coração em que nunca há fim, e sim o começo de um novo ciclo

Obrigado yoga…

Jay (Jay Gauranga)

 

 

 

 

 

 

 

Propósito

Propósito é uma palavra interessante a ser explorada num método de autoconhecimento que aparentemente é tão físico como ashtanga yoga. Sempre enfatizo para os meus alunos mais dedicados que é importante ter sempre fresco na mente o verdadeiro motivo de estar ali expondo seu corpo a sensações diversas durante a pratica. Afirmo com muita segurança que o resultado real dessa prática é abrir e tonificar o corpo para sensibilizar a mente para acessar a real consciência, para a compreensão do que é verdadeiro dentro de cada um! É um caminho gradual na qual suplanta os sentidos, a mente, o ego e por fim, a luz  permeia regiões escuras adormecidas dentro de nós. Para nos revelar o prazer e satisfação que muitas vezes nunca foram experimentadas.

Posso dar meu próprio exemplo:

” as dores e lágrimas que já derramei durante meu caminho espiritual faz com que eu possa acolher e perceber mais as dificuldades dos alunos. Em contra partida, minhas conquistas advindas da dedicação diária, também me dão energia para impor (com amor e tato) uma  força que muitas vezes estão adormecidas nos alunos.”

É incrível a adversidade que acontece numa pratica de asanas repetitiva, pois a cada dia novas experiências vão aparecendo num mesmo asana, como se todos os dias você passasse por uma estrada na qual sempre há novos horizontes a se observar. Isso é lindo, é a maior prova da infinidade do nosso eu, das complexidades de nossas amarras e padrões. E ao mesmo tempo, a tamanha oportunidade de se conhecer como algo tão sublime e profundo!

Como se a pratica se reinventasse para dar a oportunidade de se tornarmos seres novos a cada dia, mesmo que em dias de acesso mais profundo nos deparamos com aspectos que não nos faz sentir orgulho de nós mesmo. Mas são esses momentos de dor e decepção conosco que são a chave da sabedoria para um praticante humilde.

As nuvens enchem o céu para dar a oportunidade de valorizar o seu azul.

Também existe o outro lado da moeda, os dias que seu corpo responde as suas expectativas, que sua respiração flui como a quebra das ondas e o espaço é explorado com sensibilidade e amor, sabendo que a água de coco te espera num dia de sol ensolarado.

É assim, com amor e dor, com tristeza e abertura, as polaridades de experiencias diárias deixa o praticante cada vez mais fiel e devotado, sensível e amável. Consciente e presente.

Abraços forte.

Junior (Jay Gauranga)

Eu aluno, eu professor.

Existe algumas peculiaridades na pratica de ashtanga yoga na qual sempre exploro nos textos, e uma delas que venho colocar aqui é o relacionamento amoroso entre professor e aluno. Sim, amoroso no sentido mais sublime da palavra, no sentido de confiança e respeito.

Na pratica tradicional de ashtanga yoga existe um conceito chamado Krama (estágios) que o professor precisa ter a sensibilidade de perceber dose de asanas que o aluno precisa tomar diariamente, e consequentemente o aluno precisa confiar e percorrer esse caminho muitas vezes escuro e desconfortavel. O método é como um antibiótico! É preciso ter a dose certa e disciplina para que o efeito terapêutico acesse a transformação física e emocional adequada.

No início, ambos são desconhecidos: o corpo do aluno e o “feeling” do professor, e assim com paciência, sensibilidade e dedicação de ambas as partes a intimidade vai dando oportunidade para que o professor identifique o corpo do aluno e proponha o trabalho a ser percorrido, e de maneira reciproca o aluno mergulhe em novos asanas para se descobrir. Por fim, os ajustes se manifestam com respeito e confiança. As mãos do professor dão direcionamento para o corpo, e se o aluno acalma e respira, o corpo se molda de maneira que as toxinas (emocionais e físicas) possam ser induzidas de dentro pra fora. Eu como professor algumas vezes, se existe confiança e entrega do aluno, sinto que minhas mãos estão moldando um vazo de barro fresco e molhado para uma nova forma. E também, eu como aluno, quando confio no meu professor, sinto ele me levar a lugares em que meu corpo dizia que era inalcançado e escuro. Lugares limitados pelo medo e tensão, pelo ego, por me fazer acreditar que eu não podia, que eu era incapaz.

O método tradicional é igual sempre, mesmos asanas e series, mas a energia da sala e do professor tem identidade própria, é ai que mora a beleza de tudo isso, cada professor tem um toque, um olhar, uma proposta e até mesmo uma intenção. Alguns com uma abordagem mais espiritual do método, outros com um olhar mais clinico. Mas todos unidos pelo mesmo sentimento; devoção a uma pratica que vem mudando vidas a cada suor derramado no tapete. Anos se passam, e a vela se mantem acesa ao lado do quadro do mestre.

Amo essa pratica, amo todos meus alunos, e agradeço a cada mantra pela oportunidade da vida me trazer bons professores que me dão referência de dedicação e humildade. Sou eternamente grato pela oportunidade de ensinar esse método, e ainda mais grato por saber que sempre serei um aluno…

Junior (Jay Gauranga)

Mensagem para meu amigo Guiboy!

Irmão, saudade de te ver esticando seu tapete aqui no shala. Importante amadurecer a concepção de que o sadhana (disciplina) é mais importante que a quantidade ou qualidade da pratica em si, pois o processo terapêutico é resultado de um trabalho contínuo, lento e constante. Sobre quantidade e qualidade, deixe que o tempo te mostre de maneira orgânica.

As lesões e possíveis desconfortos são oportunidades de reflexão e calmaria, pois nos tira da zona de excitação e nos coloca num contexto de presença e sensibilidade com sigo mesmo. Não deixamos de praticar devido as limitações de lesões! Claro que com cuidado e amor, possivelmente a pratica se reduz ao que é possível fisicamente fazer, mas o coração se mantem firme na atitude de acender a vela na manhã, esticar o tapete e ouvir a respiração. Observe que mesmo com corpo dolorido e machucado, podemos ter a sensibilidade de ouvir e respirar, de acolher o som da garganta como uma resposta de que você está vivo e com vontade; mesmo que seu ego te leve para os cômodos escuros do seu ser, e te deixe se questionar sobre si mesmo e sobre a validade da pratica.

Acredite, tenha fé e devoção: estique o tapete, cante o mantra com a mentalidade de que você está sendo amparado por um legado milenar. E faça! Desapegue do que te espera, mesmo que seja apenas um vinyasa (um único movimento acompanhado da respiração).

Execute cinco saudações ao sol, e depois deite, relaxe, una as mãos em frente ao rosto, de olhos fechados e agradeça pela oportunidade. Costumo expressar para os alunos que uma pratica madura não é o grau das series, mas sim a relação de intimidade com a atitude de praticar. Quando se estica o tapete diariamente, não apenas pela procura do avanço dos asanas, mas principalmente pela necessidade de estar consigo mesmo, de saber que ali é permitido sorrir e chorar, por que  é o momento de rebelar seu excesso!

A dor sempre vem acompanhada de tensão e medo, devido ao trauma. Mas a respiração e bandhas (contrações musculares) vem para gerar espaço e conforto mental, a respiração vem acompanhada de prana, a consciência divina, o poder de cura, o milagre através de Purusha (Deus). A meditação na pratica de asanas quase sempre é resultado de um acumulo de experiencias polarizadas. Praticantes experientes são alunos antigos, que transitaram nos dias  favoráveis de um uma sala quente na beira da praia, um corpo aberto e esbelto, movido pela energia de um bom professor e um grupo dedicado. Mas os mesmos, também praticaram em dias frios e solitários, sentindo a dor nos ossos, na companhia apenas do frio da sala e o quadro do professor no porta retrato barato.

Minha ideia no Goura-Shala não é criar um exercito dogmático de praticantes fanáticos em fazer asanas, mas sim, dar um novo olhar para as dificuldades, principalmente desenvolvendo o entendimento que a disciplina, independente de quantidade de asanas é o óleo que mantem a chama de tapas acesa. Acredite, é essa pequena chama que se mantida acesa devido a disciplina por um longo tempo, pode derreter um Iceberg de questões internas que obscurecem nosso coração, e nos cega com as demandas emocionais.

Uma coisa é certa  –  sem disciplina, não conseguimos manter a observação constante nas alterações  emocionais, e sem observação constante, dificilmente vamos conseguir realizar o que vem a ser entrega ao Divino.

Manter a constância, observação a si mesmo e entrega ao divino é a bola da vez meu amigo! Te vejo aqui na segunda feira para fazer cinco saudações ao sol. Abraço e paz.

Junior (Jay Gauranga)

Diário de quem senta na janela.

Minha jornada no yoga não começou na pratica de ashtanga yoga, pois já era professor de hatha yoga quando conheci o método ensinado por Pattabhi Jois.

Venho realizado a cada ano que passa,  e a cada tapete esticado o quanto essa pratica uma vez que feita de maneira correta conduz o aluno a um alto nível de concentração, introspecção e principalmente mudança de hábitos e padrões comportamentais. Mas o que venho compartilhar nesse texto é um pouco da paisagem que sou presenteado quando sento na janela  do shala a cada sábado durante as aulas guiadas.

É tão claro e visível observar a condição psicológica da turma no início da aula: euforia, falta de atenção, uma respiração forçada e curta, e por aí vai. A mente ainda se adaptando a falta de espaço no corpo e a falta de calor devido o início da classe.

A aula se desenvolve, o calor vai tomando proporção e gradualmente a onda de saltos vão ganhando igualdade. O salto da turma chega a ressoar no coração, é  bonito para os olhos e principalmente inspirador para os espectadores! No auge da série, em Navasana (postura do barco) por exemplo, as pernas tremem em conjunto, o suor se manifesta e os olhares fixos na ponta dos pés dão uma imagem de soldados em treinamento. Sempre tem alguém olhando ao vizinho disfarçadamente comparando se as pernas estão esticadas, rs… Para um expectador iniciante a imagem assusta, mas como sempre reforço para meus alunos.

“Não praticamos ashtanga! Construímos ashtanga”

O conceito de krama (estágios/etapas) implica em aceitar e respeitar o seu corpo aplicando os asanas de acordo com o que lhe cabe hoje. Isso significa construir uma pratica com fundação, com alicerce.

No auge da aula o som da respiração uniforme de 35 alunos respirando de maneira organizada faz com que eu me lembre do som das ondas do mar a noite, quando a escuridão não permite a visão das ondas, mas seus ouvidos desfrutam do som uniforme, longo e afinado do mar.

Sim, não é uma aula fácil, é um momento de dedicação e desconforto, e muito menos de  de sorrisos. Mas sempre os olhos brilham junto aos cabelos molhados.  Observo, em mim e nos alunos, que esses momentos são formas de acessar uma força interior que muitas vezes esta adormecida no amago do nosso ser. Noto que os alunos vão ficando fortes, não apenas fisicamente, mas psicologicamente também; e isso é resultado de duas frentes:

A primeira é a constante situação de desafio proposto pelas limitações do corpo de cada um, pois gerar espaço em regiões tensas, musculaturas comprimidas que muitas vezes são resultados não apenas de toxinas mas principalmente por doenças psicossomáticas, traumas e marcas. É um trabalho de muito esforço e paciência, a longo prazo!

E a segunda é o “Tapah” o calor gerado pela disciplina, vai derretendo as camadas mais grosseiras do praticante permitindo acessar camadas mais sutis, que são imbuídas de força, pois são constituídas de prana, energia e também espiritualidade.

Mas o ponto em questão é!

Quando chegamos juntos, eu com a contagem dos vinyasas (movimento unido com a respiração) e os alunos com seus corpos abertos, quentes e expandidos no final da aula, uma vez feito padmasana (postura do lótus) encostado o queixo no peito com os olhos centrados na ponta do nariz, as cinturas torneadas devido aos Bhandas (fechos musculares). A sala quente cheira suor com o aroma de dedicação, as janelas escorrem  umidade deixando o ambiente ainda mais exótico, e o silencio se torna a maior atração.

Para mim é o momento mais profundo da aula. O silêncio, a respiração calma, fluida e profunda, o olhar atento na ponta do nariz, e o suor não para de escorrer… É tão fácil de perceber  o nível de concentração e equanimidade da mente de todos. O corpo quente e com espaço, a respiração flui de maneira tão profunda, é realmente emocionante. As costelas se expandem e se contraem devido a respiração profunda unida com os bandhas. Com todo respeito a todos os outros praticantes de yoga, mas um “ashtangui” nesse momento de sua pratica pessoal sabe qual é essa sensação… nesse momento os bhandas acontece de maneira acessível e o ambiente externo parece não existir… Esta ali, apenas você e o som, sentindo o corpo se expandir e contrair levemente… Presente, focado e aberto a questões e percepções além do que podemos tocar, apenas sentindo a si mesmo.

Om swasthi praja bhyah…

Bom shavasana a todos…

Junior (jay Gauranga)

Respiração Ujjayi , coragem e medo.

Já faz um tempo que venho notado o quanto essa pratica nos coloca constantemente em condições polarizadas, são elas inúmeras. Venho através desse texto expor duas condições mais presentes. A primeira é coragem de enfrentar nossas limitações, não apenas física, mas principalmente emocionais;  e a segunda, o medo de que não iremos conseguir executar a postura ou se machucar na tentativa da própria.

Um entendimento primário que ensino aos meus alunos na  pratica de ashtanga yoga é, nosso corpo físico é a representação grosseira de nossas emoções e expectativas, nossas células pulsam de acordo com nossas energias mais primarias e sutis, nosso estado interior se expressa ao mundo externo através do nosso corpo e dos movimentos, e nossas experiencias externas solidifica nossas emoções e sentimentos em forma de bloqueios, marcas e padrões.No yoga o asana é ferramenta de acesso ao espirito tendo como energia transmutadora a respiração Ujayi. É ai que mora a beleza desse processo tão transformador, uma pratica “mecânica” capaz de tocar a alma espiritual, que esta encoberta pela poeira das experiencias materiais.

Esticar o tapete é se expor ao âmago de suas forças e principalmente fraquezas. A cada dia me vejo mais controlador de minhas forças e mais dominador de meus medos. E isso é incrível!  São poderes advindos do mérito de muito desconforto e suor em cima do meu tapete.

S.k. Pattabhi Jois falava sobre os seis venenos que possuímos em nossos corações (desejo, raiva, desilusão,ganancia, inveja e preguiça) que são como poeira acumulada no espelho nos impedindo de ver nosso verdadeiro reflexo de luz.  E Patanjali falou de nossas flutuações mentais (vrittis) que nos mantem em ignorância (avidya) sendo principal causador de nosso sofrimento.

Junte isso e mergulhe em suas questões?

Sem julgamentos, apenas com amor e aceitação.

Talvez seja um trabalho difícil e muito delicado. Nossa mente é perversa e nosso coração é um oceano de diferentes carências, que muitas vezes não possuímos força sozinhos de transmutar em luz e sabedoria. Mas com determinação e tempo de maturidade tudo se renova.

Observo na minha pratica pessoal que esticar o tapete e respirar é uma forma respeitosa e assertiva de adentrar nesse universo. Pedimos às benção dos mestres para nos ajudar através do mantra de inicio,  com paciência e determinação, após alguns anos, as respostas gradualmente se revelam e a felicidade demonstra menos timidez a nossa frente.

Talvez nossa alimentação mude, nosso meio social, nossas fotografias nas redes sociais,  começamos a andar de bicicleta e ouvir mantras… mas o yoga ainda não está ai! Não é um hobby! É um  processo profundo de libertação:

São lagrimas e sorrisos…

É desconforto e comodidade…

É desequilíbrio e equanimidade…

É “sthira” e “sukha”…

É o desconforto de esticar o tapete as quatro da manhã na sala fria e vazia, no silencio da madrugada, no calor de uma unica vela acesa no canto da sala, oferecida com devoção a imagem do mestre, no qual sua unica companhia é o som profundo da sua respiração. Mas a felicidade unica de ver o sol nascer gradualmente na janela embaçada, após o descanso de sua pratica, a espera de um dia iluminado que te revela a vida com o olhar de um yogui buscador de seu próprio caminho.

Parece confuso, mas essa é a realidade para um simples yogui. Tem que haver medo no inicio para ansiar pela coragem. É preciso se deparar com toda nossa loucura e transtorno interior, para desejar tão intensamente pela a luz, para vibrar tão intensamente o anseio por Deus.

E gradualmente não há mas coragem, pois somos a mesma. E não há mais medo por que  iluminamos a sombra…

Estamos juntos nessa caminhada. Hari Om

Junior (Jay Gauranga)