Pratica de yoga implica numa mudança de concepção de mundo. De funcionalidade das coisas, da disposição de querer mudar seu comportamento em prol de algo maior, que é sua felicidade. Nossa mente esta sempre nos impondo uma certa forma de adquirir felicidade, e nós, submissos as suas demandas, gastamos tanta energia física e emocional para adquirir uma certa euforia de aquisição de sensações, e o pior, consideramos isso como felicidade. E sempre no final existe uma certa frustração, ou sensação de estar incompleto, a prova disso é que os padrões já vêm se repetindo há muito tempo, e ainda assim estamos investindo nossas fichas acreditando que dessa vez vai haver plenitude, no trabalho, projetos pessoais e até mesmo processos de autoconhecimento, e claro no amor. E como sempre somos surpreendidos pela mesmice de sempre de que “não foi dessa vez”.
Como se jogássemos uma moeda pra cima esperando sempre dar cara, sem considerar que a coroa existisse, esquecendo que existe 50% de chance de ambas se manifestarem devido a quantidade de sombra que habita em nós como resultado da quantidade de luz que está sempre presente também.
Que felicidade é essa que estamos procurando? Por que sempre queremos uma unica face da moeda?
O yoga coloca que a verdadeira felicidade vem de dentro e se chama Ananda (bem-aventurança); mas como explicar sobre o sol para alguém que nunca se quer sentiu o calor, como falar de amor se alguém nunca se quer amou. E claro, como falar de samadhi ou liberação, para alguém que se quer consegue manter a mente quieta sem ser constantemente arrebatada pelos desejos impostos pelo sistema que vivemos. Para haver interesse em algo, é preciso ter um parâmetro de onde chegar. A verdadeira felicidade acontece por não haver interesse em faces da moeda, mas para isso é preciso experienciar ambas e realizar que são ilusórias.
Então, partindo desse princípio de que “Ananda” é uma camada muito profunda no ser, acessar a paz mental e liberdade de anseios emocionais já pode ser considerado uma forma de felicidade espiritual aqui nesse mundo, pois a libertação das amarras emocionais nos deixa presente para observar com mais sutileza e introspecção o seu verdadeiro motivo que te move para o Divino (Dharma). Na minha experiencia pratica, posso afirmar que nos dias mais rígidos do meu corpo, ou na japa cantada com menos introspecção, também foram peças de tamanha importância no meu amadurecimento espiritual. Me recordo de relações turvas na época de monastério, que após anos de dificuldades e atritos com certos companheiros de caminhada, pude perceber que foram tijolos de alicerce na formação do meu ser.
Venho realizado a cada dia, ou cada tentativa de avanço como um ser espiritual, que ambas as faces da moeda (luz e sombra dentro de mim) são importantes para minha maturidade. E isso me conforta, por que me remete a uma consciência de que tudo é bom, literalmente tudo. Que o dia perfeito, são todos, mesmo os dias na sombra e escuridão do meu ser. E isso me deixa feliz e com uma sensação de estabilidade, por que ambas as polaridades que residem no meu coração necessitam ser experienciadas pra que eu possa conhecer a mim mesmo. E saber disso implica numa certa felicidade e conforto de ser eu mesmo, sem julgamentos; me deixa mais leve e sem expectativas. Num primeiro momento não é a felicidade tão profunda como “Ananda” ou a estabilidade espiritual chamada “Samadhi” mas uma certeza de que estou caminhando para frente, em direção ao que é certo. E nesse ponto meu termômetro de avanço está diretamente ligado ao meu nível de disciplina no processo do yoga, pois a disciplina é o fervor da busca espiritual (por isso o conceito de Tapah, calor) e a atenção nas inter-relações (yamas e nyamas) são o valores estabelecidos como VERDADE para o yogui.
Com chuva ou sol, na cara ou coroa, nos mantemos fixos na vontade alcançar algo que um dia nos trará a consciência que estamos todos juntos nessa caminhada.
Abraço e paz
Junior (Jay Gauranga)